Service mesh ou gateway? Decisão que evita retrabalho

Por BuildBase

7 de outubro de 2025

Com o amadurecimento das arquiteturas baseadas em microsserviços, surge uma dúvida recorrente entre engenheiros e arquitetos de software: vale mais a pena investir em uma malha de serviços (service mesh) ou em um API gateway? Ambas as soluções tratam do tráfego em camada 7, mas com propósitos e escopos distintos. Entender essas diferenças é essencial para evitar retrabalho, sobreposição de camadas e custos desnecessários.

Enquanto o API gateway é a interface de entrada — controlando, autenticando e roteando chamadas externas — o service mesh atua dentro do cluster, gerenciando comunicações internas entre serviços. Em uma implementação madura, as duas soluções podem coexistir, mas só quando há uma clara separação de responsabilidades.

Essa integração precisa ser sustentada por uma proteção multi-camada L3 L4 L7, que garanta segurança e estabilidade tanto na borda quanto no core da infraestrutura, mantendo desempenho e observabilidade sob controle.

 

Funções e sobreposição entre gateway e service mesh

O API gateway é projetado para lidar com requisições externas, aplicando políticas de autenticação, controle de acesso, limitação de taxa (rate limiting) e caching. Ele atua como porteiro da aplicação, garantindo que apenas o tráfego legítimo chegue ao cluster.

O service mesh, por sua vez, controla o tráfego interno entre microsserviços. Ele adiciona camadas de segurança mútua (mTLS), roteamento inteligente, balanceamento e observabilidade distribuída. O desafio é entender onde um termina e o outro começa — pois implantações redundantes aumentam complexidade e latência.

A integração eficiente entre essas camadas requer protocolos de roteamento e inspeção precisos, como o BGP Flowspec, que ajuda a aplicar políticas de mitigação e priorização de tráfego em tempo real, inclusive em clusters híbridos.

 

Performance e impacto na rede

Ao adicionar múltiplos proxies (como sidecars em um service mesh), há um custo inevitável de latência. Cada camada de interceptação e observabilidade consome CPU e memória, e esse overhead precisa ser equilibrado com o ganho de controle e visibilidade.

Por isso, em sistemas de alta performance ou baixa latência, deve-se avaliar cuidadosamente onde aplicar políticas de inspeção e roteamento. A separação entre tráfego norte-sul (externo) e leste-oeste (interno) é fundamental para manter eficiência.

O uso de BGP transit otimizado permite distribuir cargas entre data centers e zonas de disponibilidade, reduzindo gargalos e ajustando rotas em tempo real. Essa engenharia de tráfego é essencial para clusters que crescem horizontalmente e operam em escala global.

 

Autonomia de roteamento e controle distribuído

Empresas que controlam seus próprios sistemas autônomos (AS) têm vantagem competitiva ao gerenciar o tráfego de maneira granular. Isso permite decisões mais rápidas de roteamento e mitigação de falhas.

O AS264409 é um exemplo de autonomia operacional aplicada a redes corporativas. Ele mostra como políticas BGP inteligentes podem isolar problemas regionais e proteger comunicações internas entre clusters, sem depender de intermediários externos.

Essa flexibilidade é especialmente importante quando a malha de serviços precisa coexistir com múltiplos gateways e balanceadores distribuídos, garantindo redundância e consistência global.

 

Arquiteturas híbridas e multirregionais

Em cenários de expansão geográfica, a decisão entre service mesh e gateway ganha uma dimensão adicional: a interoperabilidade entre nuvens e regiões. Infraestruturas em multi-cloud América Latina exigem mecanismos de roteamento e segurança que se adaptem a provedores distintos, mantendo a observabilidade centralizada.

Ao espalhar workloads por diferentes provedores e localidades, as equipes precisam definir um plano de tráfego coerente, integrando gateways regionais e malhas interconectadas. Assim, o tráfego permanece otimizado e a latência controlada.

Essa abordagem também ajuda a reduzir custos de egress e melhorar a resiliência da aplicação diante de falhas em um provedor específico.

 

Zero trust e governança de comunicação

Ambientes modernos de microsserviços exigem políticas zero trust, nas quais nenhuma comunicação é confiável por padrão. Service meshes são ideais para implementar autenticação mútua, verificação de identidade e criptografia de ponta a ponta entre serviços.

Gateways, por outro lado, são responsáveis por aplicar políticas de autenticação e autorização na borda — o que inclui validação de tokens, APIs e firewalls de aplicação (WAF). A combinação dessas práticas garante uma postura de segurança coesa.

Implementações em uma cloud híbrida empresarial permitem aplicar políticas zero trust em múltiplos domínios, integrando Kubernetes, VMs e serviços legados em um mesmo perímetro lógico e auditável.

 

O equilíbrio entre controle e simplicidade

A escolha entre service mesh e gateway não deve ser binária. Em ambientes complexos, a melhor decisão é combinar ambos com papéis bem definidos e monitoramento integrado.

Enquanto o gateway protege e regula o tráfego de entrada, a malha de serviços otimiza e assegura a comunicação interna. A sobreposição de funções deve ser evitada para preservar performance e reduzir custos de manutenção.

O verdadeiro valor está em entender o contexto da aplicação e dimensionar as camadas de controle conforme o estágio de maturidade da infraestrutura. A decisão correta hoje pode evitar meses de retrabalho no futuro.

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