Segurança digital para advogados criminalistas: boas práticas

Por BuildBase

10 de junho de 2025

No mundo jurídico atual, onde documentos, petições e provas circulam com mais frequência em ambientes digitais do que físicos, garantir a segurança da informação deixou de ser um diferencial — virou obrigação. E para quem atua no Direito Penal, isso ganha ainda mais peso: estamos falando de dados sensíveis, estratégias de defesa e comunicações sigilosas que, se vazarem, podem comprometer toda uma causa.

É comum ver advogados criminalistas trabalhando em seus notebooks durante uma audiência, enviando petições do celular ou compartilhando arquivos por aplicativos de mensagem. Conveniente? Sem dúvida. Mas e a segurança disso tudo? Será que os profissionais estão realmente protegendo seus dados — e os de seus clientes — como deveriam?

A realidade é que muitos ainda negligenciam medidas básicas de proteção digital. Seja por falta de tempo, de conhecimento técnico ou simplesmente por hábito, o risco aumenta à medida que a digitalização avança. Um clique em um link malicioso ou uma senha fraca pode colocar anos de trabalho — e a reputação — a perder.

Pensando nisso, reunimos neste artigo algumas boas práticas de segurança digital voltadas especialmente para advogados criminalistas. Dicas diretas, práticas e aplicáveis no dia a dia — sem precisar virar um especialista em TI. Vamos nessa?

 

Controle de acesso e confidencialidade de documentos

O primeiro ponto de atenção para qualquer advogado criminalista deve ser o controle de acesso aos seus arquivos e dispositivos. Isso vale tanto para o ambiente físico — como o escritório — quanto para o digital. Um notebook desbloqueado, um e-mail aberto na tela ou um pendrive esquecido podem ser portas abertas para um vazamento.

O ideal é usar senhas fortes, autenticação em duas etapas (a famosa verificação em dois fatores) e, sempre que possível, criptografia de disco. Isso impede que, mesmo com o acesso ao dispositivo, a pessoa consiga visualizar os dados. Ah, e nem pense em anotar a senha num post-it colado no monitor — isso ainda acontece mais do que se imagina.

Outro cuidado é com documentos compartilhados. Plataformas como Google Drive ou Dropbox são práticas, sim — mas é fundamental configurar bem as permissões. Nunca deixe pastas sensíveis com acesso “público” ou liberado para “qualquer pessoa com o link”. Sempre limite o compartilhamento e desative quando o arquivo não for mais necessário.

E mais: revise periodicamente quem tem acesso aos seus arquivos. Estagiários e parceiros que não trabalham mais no escritório, por exemplo, podem manter permissões ativas sem você perceber. Um detalhe pequeno, mas com um potencial de risco gigante.

 

Proteção extra em processos de natureza financeira

Quando o advogado atua na defesa em crimes tributários, o nível de sigilo e segurança precisa ser ainda mais elevado. Afinal, trata-se de dados bancários, contábeis e, muitas vezes, envolvendo grandes valores. Um simples descuido pode não só vazar informações, mas levantar suspeitas sobre a própria conduta do advogado.

É importante que todas as trocas de documentos com o cliente sejam feitas por canais seguros. Plataformas com criptografia de ponta a ponta são as mais recomendadas. Evite, sempre que possível, enviar informações financeiras via e-mail ou aplicativos de mensagens sem proteção. E se precisar mesmo usar esses meios, que seja com arquivos criptografados e protegidos por senha.

Outro ponto de atenção: cuidado com backups automáticos. Alguns programas fazem upload automático de arquivos para nuvens sem perguntar — o que, por si só, pode violar cláusulas de sigilo. Antes de usar qualquer ferramenta de armazenamento, revise suas configurações de privacidade.

E sim, vale a pena ter uma consultoria técnica ao menos uma vez por ano para revisar as ferramentas usadas no escritório. Um investimento pequeno que pode evitar dores de cabeça bem grandes no futuro.

 

Segurança em casos cibernéticos e perícias digitais

Para o defensor especializado crimes cibernéticos, a atenção à segurança digital vai além do básico — ela precisa ser parte da estratégia. Afinal, esse tipo de atuação lida com provas digitais, rastreamento de autoria e técnicas que exigem um domínio razoável de tecnologia.

Aqui, uma falha na guarda de provas pode comprometer todo o caso. Arquivos forenses precisam ser armazenados em ambientes seguros, com logs de acesso, integridade verificada por hash e, de preferência, backups criptografados em local isolado. Não é exagero — é o padrão mínimo para manter a validade da prova.

Outro ponto crítico são os equipamentos usados. Advogados que recebem laudos técnicos ou analisam dados diretamente devem evitar o uso de computadores compartilhados ou redes públicas. Preferencialmente, o ambiente de trabalho digital deve ser isolado, com atualizações regulares e antivírus profissional (não aquele gratuito que vem com propaganda, ok?).

Por fim, fique atento aos golpes digitais direcionados. É cada vez mais comum hackers tentarem obter acesso a informações jurídicas simulando e-mails de tribunais, intimações falsas ou atualizações de sistemas. Desconfie sempre, verifique links antes de clicar e, na dúvida, entre em contato direto com o órgão oficial.

 

Gestão de dados sensíveis e reputação profissional

Quem atua como Direito Penal especialista São Paulo sabe que a relação com o cliente é baseada, sobretudo, em confiança. Essa confiança se estende à forma como os dados são tratados. Um vazamento, mesmo que acidental, pode ser visto como negligência — e manchar a reputação construída com tanto esforço.

A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) impõe ao advogado o dever de proteger informações pessoais de seus clientes. Isso inclui documentos, dados biométricos, números de processo, áudios, vídeos e até informações que não estejam nos autos, mas que façam parte da preparação da defesa.

O ideal é adotar um protocolo claro de proteção de dados, com regras para armazenamento, acesso, descarte e uso de informações sensíveis. Isso vale também para o uso de e-mails marketing, sites e redes sociais: nunca compartilhe dados de cliente sem autorização expressa, mesmo que sob anonimato aparente.

Outro ponto importante é a gestão de crises. Se houver qualquer suspeita de invasão, extravio de documento ou vazamento, o advogado precisa agir imediatamente — informando o cliente, avaliando o dano e, se necessário, comunicando às autoridades. Transparência e rapidez são fundamentais nesses casos.

 

Prevenção em causas ambientais e empresariais

Em processos de advocacia em crimes ambientais, a segurança digital se torna ainda mais delicada porque envolve empresas, documentos internos, pareceres técnicos e, em muitos casos, comunicação entre diversos profissionais. O fluxo de informação é intenso — e qualquer falha de segurança pode vazar dados estratégicos ou expor a empresa a novos riscos.

Nesses casos, o ideal é estabelecer uma política de compliance digital. Definir quem pode acessar o quê, quais ferramentas serão usadas para comunicação, como os arquivos serão trocados entre escritórios e peritos, e quais canais devem ser evitados. Quanto mais clara a regra, menor o risco.

Além disso, muitos documentos nesses casos possuem versões provisórias — laudos parciais, minutas de contrato, pareceres técnicos — que não devem ser compartilhados com terceiros. O advogado precisa deixar isso claro para a equipe e garantir que só a versão final (e aprovada) seja utilizada nos autos.

Outro cuidado relevante: desabilitar o rastreamento de arquivos. Há documentos que, ao serem abertos, registram o IP ou localização de quem os visualizou. Em casos sensíveis, isso pode ser perigoso, revelando rotinas ou acessos indesejados. O uso de PDF protegido e o controle de metadados são boas práticas para evitar esse tipo de exposição.

 

Boas práticas no dia a dia digital

Por fim, o básico que todo advogado deveria fazer — mas que, curiosamente, ainda é ignorado por muitos. Atualize seu sistema operacional com frequência. Mantenha seu antivírus ativo. Evite usar redes Wi-Fi públicas para acessar sistemas jurídicos. Use senhas diferentes para cada plataforma. E, claro, nunca compartilhe sua senha com ninguém, nem “só por um minuto”.

Outra dica prática: evite o uso de pendrives. Eles são vetores comuns de vírus e, muitas vezes, acabam esquecidos em lugares públicos. Se precisar transferir arquivos, prefira serviços em nuvem com autenticação de dois fatores ou, se for o caso, HDs externos criptografados.

Também vale revisar os aplicativos instalados no celular. Muitos têm acesso aos seus arquivos, contatos, microfone e câmera sem necessidade. Elimine o que não for essencial — especialmente se você usa o aparelho para trabalho jurídico. O mesmo vale para plugins de navegador e extensões que parecem inofensivas, mas podem capturar dados.

Segurança digital não é luxo. É ferramenta de trabalho — tão importante quanto uma boa petição ou uma sustentação oral afiada. E, como tudo na advocacia criminal, ela exige atenção constante, preparo técnico e uma boa dose de prudência.

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